Limão na limoeira

As aventuras e desventuras de uma banana

Capitulo Doze janeiro 31, 2011

Filed under: Capitulo Doze,Uncategorized — raphmd @ 1:44 am

Sábado chegara.Sempre dormia cedo.
Quando minha mãe se deitou, me arrumei e abri a janela. Hesitei um pouco. Pulei até a caixa d’água e depois até o chão. A caixa d’água ficava em baixo de minha janela. Fui até a portaria e Lucas estava me esperando por lá.Entrei no carro.
– Gata, quer uma Ecstasy? – disse ele ao volante me dando um comprimido.
– Ecstasy? – perguntei pegando.
– é. É bom. Pode tomar…
– Talvez depois.
-Como quiser.
Hesitei. Era aquela famosa droga que deixavam as pessoas pilhadas…
– Um cigarro? – disse ele ao parar o carro.
– Pode ser. – Como assim pode ser,Sophia? Você não fuma…Mas se Fabio fumava, não poderia ser tão ruim.
Ele me dera um maço de Marlboro e um isqueiro.
– é todo seu. – piscou Lucas.
Descemos do carro e acendi o cigarro assim como via Fabio acendendo.Deixei a fumaça circular pela boca e a soltei.
– Nem manja… – disse ele com compaixão. – Tem que botar o negocio pra dentro do pulmão.
Foi o que fiz. A principio não gostei, mas fui tentando até gostar.
Entrei na festa. Uma garota olhava fixamente para mim enquanto dançava suavemente. Ela era linda, cabelos longos e loiros, olhos castanhos, rosto delicado. Ela se aproximara e começara a dançar comigo.
Me tachavam como lesbica no colégio. Meu pai vivia acusando-me de homossexualismo.Pagava pelo que não era. Ficar com uma garota não iria me matar…
Ela chegava mais perto.
– Como é seu nome? – ela perguntou
– Sophia, e o seu? – respondi
– Samara. Você é lesbica?
– Bi.
Ela me beijou. Nos beijamos loucamente. Ela me empurrara até a parede mais próxima. Escorregava a mão pelo meu corpo e eu fazia o mesmo.
– Te adorei Sophia, depois me procura no Orkut do Lucas. – disse ela se afastando.
Coloquei a mão em meu bolso. Vi aquela “bala” branca e redonda. Coloquei a bala na boca
Após isso, não me lembro de muita coisa.Só de ter bebido muito e acordado em minha cama ás 14h do dia seguinte.
Acordara com muita dor de cabeça e sede. Não havia ninguém em casa. Cuidei logo de dar um jeito de esconder aquele cheiro de cigarro e álcool de meu quarto. Tomei um banho longo e uma aspirina.
Minha mãe chegara e não suspeitara de nada.
Disse a ela que desceria e fui tentar fumar. Até agora era uma tarefa difícil á mim, mas eu ia tentar. Se Fabio conseguia, por que eu não conseguiria?

 

Capitulo Onze janeiro 17, 2011

Filed under: Capitulo Onze,Limões e Bananas — raphmd @ 12:54 am

Era inacreditável tudo que estava acontecendo. Eu não sabia o que fazer. Deveria eu dar um fora em Eric para me jogar nos braços de Fábio ou continuar com Eric? As conversas no MSN eram realmente apaixonantes. Havia também o beijo de Fábio… Mas não. Que sentimentos eu nutria por eles ?Era algo tão indecifrável pairando na minha mente. Talvez eu não sentisse nada por nenhum dos dois… Talvez. Acho que sim. O que fazer?
Sábado chegara. Não tinha idéia de como encarar Eric. O que fazer com Eric?
Cheguei no Shopping. Ele estava lá.
– Oi Sophia. – sorriu.
-Oi Eric. – sorri e dei a mão á ele.
– Meu amigo está guardando lugar para nós na sala. Vamos?
– Claro. – ele segurou minha mão. Estávamos suando frio.
Sentamos na poltrona do cinema.O filme começara. Ele segurara minha mão. Eu estava imóvel.Ele me olhava.Retribui o olhar.Ele me beijou. Virei o rosto após isso. E mais nenhum beijo fora dado.
Saímos do cinema. Ele não comentara nada. Sentamo-nos numa das mesinhas da praça de alimentação.
Fora silencio, apenas silencio.Minha mãe ligara.
– Filha, posso ir te buscar? – perguntou pelo telefone
– Claro mãe, o filme já acabou mesmo. – respondi olhando para ele.
Meu primeiro encontro não fora aquilo que alguém possa chamar de encontro dos sonhos. Nem bom ele tinha sido. Mas fora o primeiro. E as pessoas só tem um primeiro encontro.Assim fora o meu
Voltei para casa. Queria contar tal experiência para minha mãe. Ela vivia fazendo discursos á mim dizendo-me que era muito cedo para coisas do tipo.Mas mesmo assim escrevi para ela uma carta contando minha experiência com Eric. Pensei que ela reagiria bem. Colocara a carta na caixa onde ela guardava esmaltes.Ela lera.
– COMO ASSIM SAINDO COM UM MENINO?VOCÊ VAI CASAR COM ELE,MENINA?NÃO TÁ MUITO NOVA PRA ISSO NÃO? – Ela gritara.Muito.
– Ah mãe, todo mundo da minha idade já beijou. Até a Ana. – argumentei.
– MAS VOCÊ NÃO É COMO TODO MUNDO. VOCÊ É MINHA FILHA. E QUANTOS ANOS TEM ESSE MENINO?
– 15…
– QUINZE? TÁ DE BRINCADEIRA? VOCÊ TEM 13. É MUITO NOVA. LIGA PRA ELE E TERMINA AGORA, SE NÃO CONTO PRO SEU PAI E VOCÊ SABE COMO ELE É, NÃO SABE?
– ah mãe, não faça isso. Por favor.
-FAÇO SIM. – ela respirou – liga pra ele agora e termina.
– Agora mesmo?
-Agora
– Na sua frente?
– Na minha frente. E no viva-voz.
Engoli em seco, estremeci enquanto digitava os números no meu celular.
– Alô? – ele atendeu.
– Eric? – perguntei
– Sim, pode falar Sô, reconheci sua voz.
– Tá tudo acabado entre a gente…
– Mas…mas….Por que? – senti o tom de voz dele triste.
– Ah, problemas familiares… Eu…eu sinto muito… Mesmo…
– Claro que sente. Mas tudo bem.
Eu desliguei o telefone.Ele tornou a tocar.
– Mas saiba Sophia, eu nunca vou te esquecer – disse ele ao eu atender o telefone.
Não sabia se ficava feliz ou triste. Minha mãe fizera todo o trabalho difícil por mim. Mas eu não sabia o que fazer diante do fim do meu primeiro namoro de 4 dias.Eu fiquei tão sem reação que apenas chorei. Chorei.Lagrimas de tristeza? De felicidade? De incerteza?
No dia seguinte, contei á Fabio. Ele era meu amigo ainda. Pelo menos era o que eu pensava.
– Não vejo importância nisso. Vocês nem namoravam mesmo. – disse ele
-Claro que namorávamos, ele me pediu em namoro. – expliquei
– Mas vocês nem tinham ficado antes…
– Mas ficamos sábado.
– Só uma vez. Você não estava namorando…
– Estávamos sim. – choraminguei.
– Para, assim você parece um bebê chorão. – Ele olhou para mim. – Você ainda tem que aprender muito,garota. Acha que um namoro é só pedir e pronto, vocês estão “ namorandinho” ? Não. Tem coisas muito alem disso num namoro.
– Tipo…?
– Amor. E Isso é algo que demora pra ser construído. Geralmente em alguns meses de ficada a paixão tende a parecer amor. Mas não é. Beijou muito lá? – disse ele ríspido
– Não. Eu amarelei.
– Triste. – Fábio não era de demonstrar muitas emoções, mas eu não pude deixar de notar que ele deixara escapar um sorriso.Ele acendeu um cigarro. – Olha, sua vidinha amorosa mal resolvida não me importa. O mundo ainda é muito colorido para você. Mal sabe você que esse teu “ sofrimento” é o de menos. Adeus. Hoje te deixo um pouco antes da sua casa. Vou encontrar uns amigos aqui. Tchau Sophia. Amanha não vou para escola.Não me espere.
– Tá… – disse estranhando aquela reação dele.
Fui em direção para casa. Após isso meus dias foram rotina. Pura rotina. A amizade com Fábio estava reatada. Aquilo tinha sido apenas uma fase. Mas quase sempre ele jogava algumas indiretas.
Finalmente as férias de julho chegaram. O telefone tocara.
– Sophia, vamos à uma festa? – disse Ana ao telefone.
– Claro… Onde? – perguntei.
– Na casa de um amigo , hoje a noite.
– Beleza. Me pegue ás 6 horas.
Me arrumei e fui a festa.Eu não conhecia muita gente.Até que…
– Oi Kleber – disse animadamente.Pra quem não lembra, Kleber era aquele meu amigo homossexual.
– Oi Diva – disse Kleber me abraçando.
– O que você ta fazendo aqui?
– Conheço o dono da festa – ele gesticulava muito. – Menina, to pegando um menino muiiitooo gato. Vou te apresentar pra ele.
Ele me pegou pelo braço e me levou até um garoto.
– Sophia, esse é o Lucas. -disse ele piscando para ele.
– Oi Lucas. – disse cumprimentando-o
Lucas era moreno e tinha grandes olhos castanhos.
– Gata, vamos numa festa sábado? Eu sou promoter.Lá na Sex. – disse Lucas
– Sex? O que é isso? – Perguntei.
– Uma boate gay. Você vai adorar… Você é bi,Ne?
– Não…
– Nossa, você parece.
– Mas não sou… – talvez eu fosse. Descobri mais tarde que minha primeira paixão fora uma menina.
– Ah, mas vai muito hetero também. Faz assim gata, me liga amanha me dizendo se vai ou não.
– Mas eu só tenho 13.
– A censura lá é 15. Mas relaxa, eu dou um jeito de você entrar.
Curti a festa e voltei para casa. Sempre fora comportada e reprimida. Eu ia me arriscar.Morar no primeiro andar tinha lá suas vantagens…
Peguei o telefone e liguei para Lucas.
– Diva, eu vou. Me pega meia noite e meia aqui. Tudo bem?
– Otimo. Até sábado.

 

 

Capitulo 10 janeiro 9, 2011

Filed under: Capitulo Dez,Limões e Bananas — raphmd @ 11:14 pm

O que estava acontecendo? Nunca fui um padrão de beleza, os garotos me desprezavam,as pessoas me humilhavam. Todas minhas amigas no Jardim de infância e no ensino fundamental I tinham garotos a fim delas, menos eu. Eu era desprezada pela maior parte da população.Era sempre tachada como a estranha. E agora o apelo sexual começava a bater na minha porta. O desejo sexual não gritava dentro de mim. Mas começara, finalmente, a abertura do botão  de flor?
Era uma confusão em minha mente.Eric, Fábio. E ainda teria Eric no sábado. Nós estávamos namorando… Ou não? Aquilo fora uma traição? Se sim, o que faço eu? Logo no primeiro relacionamento traindo? Seria eu uma biscate? Uma rapariga com fogo nas partes? Mais uma das garotas prosmicuas do colégio?As duvidas pairavam na minha cabeça loucamente. Era tudo tão estranho.
No dia seguinte, quarta feira, não havia contado à ninguém o ocorrido, só sobre Eric, mas nada sobre Fábio. Nem à Ana.
Fui à biblioteca do colégio com Caio e Ana para ver os horários do cinema
– Sophia, eu acho melhor você não fazer isso. – advertia Ana. – O que você acha, Caio?
– Eu não acho nada – disse ele rindo, com o mesmo tom irônico de sempre.
– Eu vou e pronto. Já marquei. – Eu disse decidida.
– Se você diz… – disse Ana.
– O site do cinema não está abrindo – disse Caio sem expressão.
– Viu Sophia, isso é um sinal. – disse Ana.
– Dá F5 nisso ai, Caio. – Disse ignorando Ana.
– Abriu. – disse Caio
Abaixei para ver os horários. Sessão das 14h30m. Seria essa.
O sinal batera.Fui para sala.

O dia anterior não afetara Fábio. Ele estava na porta de minha sala como sempre o fazia.
– Vamos? – sorriu. Era como se nada tivesse acontecido.
– Vamos. – sorri. Se era pra fingir que nada tivesse acontecido, eu fingiria também.
Saímos da escola e ele acendera um cigarro.Tragou-o e falou:
– E ai,como foi o dia ontem? Fez toda a tonelada de lição que te passaram?
– Sim. Geografia. Eu não gosto muito. Uma matéria inútil,na minha opinião .Como andam suas notas? – Disse eu
– Não é uma matéria inútil. Ah, nem comente sobre isso. Acho que vou acabar repetindo de novo, mas pelo menos esse ano vou repetir porque não consegui tirar nota, e não por faltas.
–  Você faltava muito ano passado?
– Cabulava. Morava praticamente sozinho. Passava as manhãs com minha ex.
– Serio? Por isso não te via ano passado – ri
– Eu não estudava aqui,bobinha. Eu estudava em Niterói.Num tipo de Federal de lá.
– Então você ERA inteligente?
– Ainda sou. Minhas notas estão baixas por sua causa.
– Haha. O que eu fiz agora?
– Eu não paro de pensar em você.
Tínhamos chegado a porta de minha casa. Me calei. Ele olhou fixamente para mim e tentou me beijar.Virei o rosto.
– Tchau. – disse me esquivando. – Até terça.
– Até. – Disse ele ao acenar um “tchau”.

 

Capitulo 9 dezembro 26, 2010

Filed under: Capitulo 9,Limões e Bananas — raphmd @ 4:26 pm

Eu tinha um amigo,é. Que dizia que me amava por msn. Que era amigo de uma velha amiga minha.Que me conquistara com palavras doces e sensíveis.Que me pedira em namoro sem muita cerimônia. E eu, como completa idiota que era, aceitara. Não que eu gostasse dele, mas a carência era tão grande que me fez chegar ao extremo.
Ele não era dotado de beleza. Era menor do que eu, e bem acima do peso. Eric era o nome dele.
Eric diz:
E então,quando nos veremos?
Sophia diz:
Sábado, pode ser? Daqui a uma semana.
Eric diz:
Claro, onde?
Sophia diz:
Shopping ?
Eric diz:
Claro minha linda.
Não era o certo à se fazer, mas eu menti para minha mãe.Ela não ia entender. Esses adultos nunca entendem…
– Mãe, posso ir no shopping com umas amigas Sábado? – disse eu com remorso.
– Claro querida. Eu te levo – Disse minha mãe.
Porem, ainda faltava uma semana para sábado.
Na terça, logo contei para Fábio.
– Eu to namorando. – disse eu entusiasmada.
– Não, você não está namorando. Nem ficando você está. – disse ele com um olhar misterioso e indecifrável.
– Você querendo ou não, eu estou.
– Sabe de uma coisa ? ontem foi meu aniversario. – Ele mudara de assunto olhando distante.
– Jura? Parabéns. Quantos anos? – Disse feliz
– 17.
– Você nem me avisa. Se não, teria comprado um presente.
– Não precisa de presente.De você só quero um favor…
– Que favor?
– Feche os olhos.
Fechei.Senti os lábios dele sobre os meus. Sua língua buscando loucamente pela minha.Não retribui.
Ele me olhou. Abri os olhos com olhar assustado.
– Eu tenho que ir. Já estamos na porta de minha casa. Eu tenho muita lição de casa hoje. Então até mais. Tchau. – Sai o mais rápido possível. Não dei tchau e nem chance dele se despedir.

 

Capitulo 8 dezembro 20, 2010

Filed under: Capitulo 8,Limões e Bananas — raphmd @ 1:34 am

Voltamos e fora a mesma monotonia e tédio dos outros dias.
Finalmente o feriado havia se passado e eu já me encontrava no conforto do meu lar.
Na escola os dias eram monótonos. Passava as tardes de terça e quarta com Fábio.Eram momentos de deleite. Conversávamos sobre tudo.
– Ouvi meu nome. Você ouviu? – disse eu.
– Não. – ele respondera sorrindo.
– Era a morte me chamando. – disse brincando.
– Particularmente, eu não acredito em nada disso, nem morte, nem vida, nem céu , nem nada.- disse ele ríspido.
– Por que não? – Perguntei querendo saber mais sobre aquele curioso ser que eu dizia meu amigo. Eu também não acreditava. Algo em comum, talvez.
– Ah, é uma longa historia – disse ele acendendo um cigarro.Ele checou a direção do vento. – Fica do meu lado direito, to com neura de te deixar com cheiro.
Obedeci.E as tardes eram interessantes assim, ou nem tanto.  Pelo menos eram assim até ele me levar à porta de casa.

 

Capitulo 7 dezembro 16, 2010

Filed under: Capitulo 7,Limões e Bananas — raphmd @ 4:06 pm

– pra onde? – perguntei
– Um acampamento da igreja da Isabel. Vai a sua madrinha, Valdir, Jacqueline e a namorada do Valdir. Nós decidimos ir junto sabe, costumávamos ir ao apartamento da praia de seu padrinho nos feriados, então não custa nada ir com eles.
– Mas acampamento da IGREJA? – Não preciso nem comentar minha falta de simpatia pela igreja.
– Faz uma força, vai…
– Pai, a mãe já vai na igreja todos os domingos e me leva aos cultos. Lá também terão muitos cultos, não é mesmo?
– Não sei. Mas você vai.
Fechei a cara e retomei minha rotina do fim de semana. Comer e dormir.
A semana passara rápido. Chegara o feriado. Um dia antes de irmos ao acampamento, minha mãe pediu pra conversar comigo
– Ei Sô, posso entrar? – disse ela calmamente batendo na porta do meu quarto.
– Ah,entra aê. – disse pra ela acenando para que entrasse
– Acho que você ainda não sabe, mas a igreja que Isabel freqüenta é a mesma que a sua irmã, a Camila, freqüenta. Não sei se ela também vai,mas to só te preparando pra caso ela vá.
– Ah, se ela for ou não, pra mim tanto faz. Já te disse que não vai mudar nada na minha vida conhece-La ou não.
– Quero ver se é assim na hora ”H” também.
– Relaxa mãe.
Ótimo , mais uma noticia pra acabar com meu feriado.
Fomos de ônibus até o acampamento. Todos os membros da igreja foram dividos em três ônibus. Não fui no mesmo ônibus que minha irmã. A viagem de ida foi tranqüila. Os fieis cantando louvores e eu ouvindo Miyavi no meu mp3.
Ao chegar no acampamento olhamos onde seriam nossos quartos. Cai em um quarto em que não conhecia ninguém, mas minha mãe tinha conseguido trocar de quarto com uma mulher que estava no meu quarto.
As refeições eram fartas e bem preparadas. Porem nos acordavam as 7 horas da manhã para irmos ao culto da manha. Havia um culto pela manha e outro pela noite.TODOS OS DIAS.
Claro que eu me safava dos cultos. Lá era um lugar arborizado. Andar por lá sem ser notada era uma tarefa simples no acampamento NR.
Após os cultos da manha havia o almoço. Após o almoço se tinha a tarde livre na piscina.
Eu não era muito adepta das roupas de banho e da água.Mas a minha irmã era.
Sentei num banquinho perto da piscina.Minha mãe sentou ao meu lado e apontou para uma garota de pele morena e cabelos negros,longos e lisos.
– Aquela é a sua irmã. – Disse ao me olhar com compaixão.
– Um grande dane-se. – Disse eu dispensando aos bons modos.
O tédio era grande por lá. Passava o dia ouvindo musicas como Animal Collective no meu celular. Sentei ao lado do meu Pai,que estava sentado em volta de uma mesa de madeira. Camila saira da piscina e sentara conosco. Junto a ela veio uma garota e sentou ao lado dela.
– Oi pai – Disse Camila sorrindo.
Não que eu me incomodasse com o fato de ter uma irmã, mas era estranho deveras ver uma garota que você nunca viu na vida chamando seu pai de pai. Não era ciumenta, nunca tivera muito apego pelo meu pai, mas que fora uma sensação estranha, fora.
– Eu tenho Uno no quarto, vamos jogar? – Disse a garota que estava do lado de Camila. Essa era a irmã mais velha de Camila, a Valdenice.
– Ah! Claro. Pode ser. – Sorri para ela. Ela saiu e foi em direção ao quarto.
– Oi Sophia. – Disse Camila para mim
– Olá. – Não sorri. Tá, sorri. Mas bem de leve.Não fui gélida, pelo menos não propositalmente. Mas me sentia intimidada diante daquela figura. 14 anos e eu 13. Cabelos longos e os meus curtos. Ambos lisos e negros, apesar do meu ter algumas mechas rosadas. Eu ainda era mais alta e mais magra que ela. Mas ela tinha mais corpo. Eu não tinha nada que me diferenciaria de um garoto.
Valdenice apareceu com o Uno na mão.
– Pronto. Vamos jogar? – Sorriu Valdenice para mim. – Quem começa?Pode ser você Camila.
Ela começou. Eu não tirava o mp3 do ouvido. Isso incomodava meu pai. Mas ele não pronunciou um só fonema á respeito.Jogamos Uno ao som de Animal Collective o dia todo.
À noite havia culto. Não havia como fugir dos cultos noturnos.Fui durante os 4 dias.
A depressão e o tédio tomaram conta de mim. Fui dar uma volta na cidade vizinha.Não tinha nada por lá, só bares e mineiros.
Minha madrinha começara a passar mal. Ela tinha problemas de pressão.A levamos ao hospital mais próximo,na cidade vizinha.
É, foi um passatempo conhecer uma cidade nova. Vazia também.

 

Capitulo 6 dezembro 12, 2010

Filed under: capitulo 6,Limões e Bananas — raphmd @ 11:05 pm

Quando bateu o sinal para a hora da saída, Fabio  estava lá, na porta da minha sala.
– Oi amiga. – sorriu.
– Oi amigo – sorri de volta.
Comecei a andar em direção a saída. Ele me perseguia.
– Tchau amigo. – disse indo para fora da escola. Já podia ir e voltar sozinha da escola.
– Tchau amiga.
Fui em direção pra casa. E ele foi atrás.
– Qualé ?você ta me seguindo ou o que? – olhei pra ele.
– Não, eu vou ali esperar uns amigos. – Apontou pra um cantinho,que coincidentemente, era também onde ficava a porta dos fundos do meu prédio.
– Ah,eu moro ali.
– Serio? Nossa, que legal. Então eu te acompanharei até a porta de sua casa todo dia. Pelo menos agora você tem alguém pra levar a sua mala – ele soltou um risinho.
E era assim todas as terças e quartas, dias em que saiamos no mesmo horário.
Rotina escolar, todo dia. Minha mãe foi me pegar no colégio um dia para eu ir almoçar com ela na casa da minha avó.Entrei no carro.
Minha tia estava por lá, para buscar o meu primo na escola.Ela olhou para dentro do carro e falou para minha mãe
– E ai, já sabe alguma coisa do velório?
– Não. – minha mãe respondeu.
Ela saiu.
– Mãe, me explica essa historia de velório. Quem morreu? – Perguntei curiosa. Ela estava tremula, mordendo os lábios e com o olhar tristonho e distante.
– Filha… Eu ia esperar chegar na casa da sua avó pra te contar… – ela disse bem baixinho.
– Quem mãe, quem?
– Foi o Padrinho quem morreu. – Disse minha mãe.
– Ah,ta brincando né ? – eu disse triste.
– Queria poder estar.
Comecei a chorar baixinho
– Você chora que nem um cachorro. – Observou ela rindo
Fiquei quieta,chorando.Não escrevi nada sobre meu padrinho por aqui,mas ele era como um segundo pai para mim.Na verdade,mais pai que meu próprio pai.Quando eu era pequena minha mãe me deixava na casa da minha madrinha para ir ajudar meu pai com os negócios.Ele me mimava muito, eu o adorava,sempre me dava atenção, abraçava-o muito.
Cheguei na casa da minha avó.Não quis almoçar.
– Ah, come sim.Não adianta ficar assim.come alguma coisa. – dizia minha avó.
Comi um pouco.Algumas batatas fritas e um copo de refrigerante. Corri para o quarto da minha avó e cai no pranto. Devia ser algum tipo de jogo ou coisa similar. Eu não queria acreditar em nada daquilo.Não mesmo.
À noite ainda teria o velório.Eu fui,mesmo meus pais não me querendo por lá. Eu queria me certificar que não era mentira.Mesmo a cada minuto do dia sentir minha esperança se esgotando pela dor e a angustia de tudo isso. O velório seria perto de casa, mas fui de carro. Os céus estavam chorando a perda dele.
Ao chegar no velório a atmosfera mórbida deprimia-me cada vez mais. Mas a bomba da depressão me atingiu no momento em que vi o cadáver. Não parecia um cadáver,parecia um boneco de cera,imóvel,frio.
Chorei desesperadamente.Eu não entendo até hoje o motivo do meu choro.Mas chorei.Nós choramos em velórios,mas por que choramos? Tristeza em perder um ente querido brutalmente? Talvez.
De madrugada,a chuva cessou. As estrelas festejavam a chegada de mais uma estrela. Até hoje,quando quero matar as saudades de meu padrinho olho para as estrelas. Não que eu acredite nas forças divinas, mas acho que ele está lá, me olhando e me ouvindo
Voltei para casa para dormir e ir ao funeral no dia seguinte. Apesar de não ter dormido muito bem.
O dia seguinte amanheceu ensolarado. E o funeral foi sob um escaldante sol.
Minha madrinha,pobrezinha,chorava muito.Mulher sofrida,forte e sofrida. Criara 4 filhos sobre muito zelo, apesar de ter perdido um dos 4. As drogas o levaram desta para melhor. Sobraram então três. Duas mulheres e um homem. Isabel, Valdir e Jacqueline. Uma de suas filhas,Isabel,a dera um neto. Ele era a alegria da casa e da família. Alegre, 7 anos, o menino dos olhos da família. E agora,alem de ter perdido o filho nessa viagem da vida, perdera o marido.
Derramei mais uma considerável quantidade de lágrimas no funeral.Graças aos céus a próxima semana seria um feriado. Pretendia ficar no quarto, só eu e meu computador durante quatro dias sem nenhum incomodo.Até que…
– Filha,nós vamos viajar… – disse meu pai

 

Capitulo 5 dezembro 4, 2010

Filed under: Capitulo 5,Limões e Bananas — raphmd @ 3:52 pm

No ano seguinte Natalia havia se mudado de escola.
– Cuide bem do Caio, não o deixe sozinho. Ele é tão tímido. – Dizia Natalia a mim.
O Ano letivo começara. Eu andava com Ana e tentava andar com Caio,mas ele parecia plantado no chão.
Escola de novo. A rotina de sempre. Mas não era a mesma.
Hoje era dia de prova no Ensino Médio,então o intervalo do Ensino médio era junto com o do fundamental. Eu, mera aluninha do 8º, tinha alguns amigos por lá.
Na verdade, só o pessoal que tinha feito teatro comigo.enfim…
Encontrei com a Clara,uma garota do 1º ano.
– Oi Sô, fica aqui com a gente. – ela acenou e convidou.
Acenei e fui. Cumprimentei ela e seus amigos.Ela , uma amiga e mais dois garotos.
Eles conversavam empolgadamente, eu,claro, estava ouvindo tudo,por mais que estivesse entendendo coisa alguma.Até que um dos garotos,analisando meu all star todo desenhado e escrito em caracteres japoneses me perguntou
– Amiga,você é Otaku ? – ele perguntou,com um sotaque carioca.
– Ah, eu ouço o j-rock, mas não vejo anime. – respondi.
Ele,que estava em pé, sentou do meu lado.
– Eu sou o Fábio. Você é…?
– Sophia.
– Você só ouve j-rock?
-Não, ouço outras coisas também.
O sinal tocou.
– Ah,tenho que ir pra minha sala. Até a próxima. – eu disse me despedindo dele e todos. Corri pra sala.

 

Capitulo 4 novembro 30, 2010

Filed under: Capitulo 4,Limões e Bananas — raphmd @ 12:52 am

Andávamos juntas durantes os intervalos, porem Antônia não gostava de companhia que não a minha, era só eu e ela. Isso me incomodava um pouco, mas eu a adorava. Não podia andar com Ana, nem com Natalia,nem Caio, eles eram meus amigos também, mas eu preferia Antônia.
Eu comecei a ir mal em matemática. E Antônia também. Minha mãe me ajudava a estudar, mas Antônia não tinha ninguém. Ela morava com o pai, e ele trabalhava muito, não tinha muito tempo para a filha. No fim ficou combinado que minha mãe ia ajudar a mim e à Antônia a estudar.Antonia viria para casa comigo depois das aulas.

Estudávamos matemática todo dia um pouco, depois ficávamos se divertindo no meu quarto.Era bagunça. Bagunça inocente. Duas crianças brincando, olhando o meu guarda roupa, se vestindo com as roupas dentro dele para ver como ficavam,ouvindo musicas no auto-falante do celular,enfim,coisas fúteis, porem divertidas.
O pai de Antônia, Marcelo, havia ligado para casa para ter noticias de como estava Antônia. Minha mãe acabou contando um pouco de sua dor para ele, que era psicoterapeuta. A vida de minha mãe não era fácil, meu pai a complicava muito.
Na escola, eu brigara com Ana e Natalia por causa de Antônia. Não devia ter feito isso, porem o fiz.
Alunas do 8º ficavam me provocando por Orkut,brigávamos por recados. Certo dia,  isso se estendeu demais e acabou gerando uma briga dentro da escola
– Hey, Sophia. – Valda chegou em mim. Valda era uma menina que flertava com todos os meninos da escola e tinha uma legião de seguidoras junto. Era bem popular. Resumindo, atrás de mim veio ela e o rebanho todo. – Que historia é essa de você ficar comentando em todas as fotos do meu Orkut me zoando?
– Só retribui em dobro o que você fez comigo. – Disse. Ta, vou explicar a historia. Ela havia me chamado de emo em um comentário em uma foto que eu havia tirado. Não que eu fosse preconceituosa com emos, porem não admitia que me rotulassem. Fui um pouco infantil em ter comentado em todas as fotos dela que ela era uma biscate sem rumo, rapariga e afins.
– Depois da escola nós resolvemos isso – Ela disse. O rebanho todo em volta de mim. Eu ia apanhar.
– Não, minha mãe vem me buscar. Por que não podemos resolver aqui? Medinho da coordenação?
– Não, não sou bebezinha que nem você. Que a mãezinha vem buscar.
-Não,não sou bebezinha. Seus pais que já te acham um caso perdido e desistiram de te educar.
Começaram os xingamentos e as palavras imorais, de baixo calão. Não ia me rebaixar aquilo.Nunca tive muita paciência para escutar os outros.
– Escuta aqui, eu não vou perder meu tempo discutindo com você. – Sai andando.
Não apanhei e havia provocado a ira da menina mais popular do colégio. Nenhum hematoma,nenhum arranhão,nada, só a sensação da vitoria correndo pelas minhas veias.

Hoje Antônia voltaria para casa comigo.
Almoçamos, estudamos e depois explorávamos o meu curioso guarda roupa.
– Quero ver como você fica com essa saia. – Disse Antônia. Aquela saia apodrecia no meu guarda roupa. Então porquê não usa-la ao menos uma vez.
A vesti.
Estava colocando a roupa casual quando meu pai bateu na porta. Ele acabara de chegar da loja de automóveis que ele tinha
– Calma pai, to me trocando. – gritei.
Ele parou. Sai do quarto. Tomamos o café da tarde e meu pai ia levar Antônia até a casa dela. Minha mãe e eu fomos junto.
A ida foi tranqüila.Já a volta, quando Antônia não estava mais no carro, ao meu lado…
– Maria, você não vê? Você não olha mais a nossa filha. – Disse meu pai em tom alterado.
– Do quê você está falando?- Disse minha mãe.
– Nossa filha, eu quero evitar…
– Evitar? Do quê você está falando?
– Eu não quero que ela ande mais com o Kleber. Ele é um mal exemplo pra ela. – Kleber era um amigo de infância meu. Ele era homossexual desde criança.
– Nem pensar. – Me intrometi. – Ele é meu amigo. Você não pode.

– Posso sim. E não quero mais aquela menina lá em casa. Maria, você não vê Maria, pelo amor de Deus, olha nossa filha.
Uma lágrima escorreu do meu olho. Uma lágrima de raiva, como sempre.
Voltamos pra casa.Fui dormir. Estava já cheia de tudo. Não queria papo. Capotei na cama.
No dia seguinte, fui a escola e contei á Antônia o ocorrido.
– Então, acho melhor nós nos afastarmos um pouco. – Eu disse triste.
– Ah, tudo bem então. – o clima estava pesado. E Antonia não havia gostado nem um pouco dessa historia.Mas ela respeitou minha decisão.
Voltei a falar com Ana e Natalia.A amizade voltou como era antes. Estava tudo bem, e eu havia passado em matemática.

 

Capitulo 3 agosto 26, 2010

Filed under: Capitulo 3,Limões e Bananas — raphmd @ 10:46 pm

7º ano do ensino fundamental. Ano novo, vida nova, pelo menos era o que eu esperava. Ana estava lá, sentada na carteira da escola à minha espera. Graças às forças divinas não havia caído na mesma sala que Rosana. Não que uma nutria um ódio mortal pela outra, mas seria difícil olhar para ela e não sentir uma pontinha de raiva.

Na aula de educação física juntaram as duas salas. Rosana estava sentada ao lado de dois orientais muito simpáticos.

– Oi Sophia. – Disse Rosana.

– Aaah, olá Rosana. Estava com saudades dessa rotinazinha da escola? – Ia usar a palavra medíocre, mas achei que ela não ia entender.

– Só dos amigos, não sou muito fã de acordar cedo e vir pra escola. Sophia, essa é a Natalia e esse é o Caio.

– Oi. –disse em direção aos dois. Rosana se afastou. Fiquei conhecendo mais aqueles dois orientais novos na escola ao lado de Ana. – Vocês são muito parecidos. São gêmeos?

–  Não, somos primos – Disse Natalia. Ela tinha o ar angelical e despreocupado.

– Bem vindos – Sorri. Caio era meio caladão.

Descemos ao pátio para o intervalo. Nós quatro. Eu, Ana, Caio e Natalia. E fora assim por um bom tempo. Só nós.

Tinha o costume de ler muito. As pessoas estranhavam isso. Certo dia, na fila da cantina, estava com um livro de 500 paginas em mãos. Uma garota da fila olhava fixamente para mim. Ao me ver com o livro, se impressionou e exclamou :

– Nossa,como você consegue ler isso? – Perguntou a garota

– Lendo. Com os olhos bem fixados, mente focada e uma pontinha de sede de saber. – Disse eu, com um sorriso espontâneo e um peso por inadimplência de multas na biblioteca.

– Meu nome é Antonia. E o seu? – Disse ela estendendo o braço.

– Sophia. – Disse. Ela parecia conhecer a ética. Se apresentar antes de pedir apresentações. Caso raro naquele lugar.

Conversamos o intervalo inteiro. E eu nem havia notado que ela fazia parte da minha classe. Só fui notar quando entramos na mesma sala. Conversamos durante as aulas também. Não que fosse certo, mas não ligava mais pro que pregavam sobre o certo e o errado. Era só mais uma tola com idéias radicais. Mas, uma tola, de qualquer jeito.

Descobri que aquela simpática garota não gostava das mesmas coisas que eu. O que não me impressionara, porem, a simpatia dela me conquistara.

Poderia dizer que foi o inicio de uma amizade que me causou alguns problemas.Mas eu não me importo. Fez parte da minha vida.